A mentalidade moderna tem
dificuldade em conciliar amor e castidade. Afirma que “o amor envolve toda a pessoa e requer necessariamente também a
expressão sexual, sem esperar o tempo do matrimônio. Se duas pessoas se querem
bem, devem ser sinceras ao expressar tal amor. É impossível dominar os impulsos
sexuais. O afeto pede para que seja manifesto e o corpo, incluída a
sexualidade, é o caminho mais natural.”
São algumas afirmações comuns de muitíssimos
jovens. Expressam um direito defendido tenazmente, mas também a mágoa por ideal
considerado belo, mas impossível. Há a convicção que não se “pode” dar ordens
ao amor; muito menos ”colocar-lhe” um freio; deve ser vivido em liberdade.
Existe, porém, também a
mentalidade oposta: a possibilidade de viver um amor casto. Exatamente porque
duas pessoas se amam, cultivam um amor feito de ternura e de respeito. Sabem
delimitar as justas fronteiras que permitem sentirem-se ligadas afetivamente
sem se concederem tudo aquilo que o impulso emotivo e carnal pede. Remetem o
amor aos ideais em que acreditam. Conseguem enquadrar o amor no contexto dos
valores fortes, para os quais é justo não se deixar seduzir pelo instinto.
Procuram preservar a expressão sexual para a escolha definitiva do matrimônio.
Acreditam que o amor é verdadeiro se não se deixar levar dizendo que tudo é
lícito. Mais que em liberdade, deve ser vivido na verdade.
A Palavra de Jesus
A definição mais bela de
castidade foi dada por Jesus nas bem-aventuranças: “Felizes os puros de coração” (Mt 5,8). Não falou de pureza física,
mas de coração. Nem tampouco a excluiu, mas deu o primeiro lugar àquela que sai
de dentro. O que Ele quis dizer? Vamos encontrar a resposta em Mt 15,19: “É do coração que vêm as más intenções:
crimes, adultério, imoralidade...”.
Jesus ensina que a castidade se
remete antes de tudo ao respeito à pessoa. É casto quem olha o outro vendo nele
a dignidade de criatura; quem não se deixa vencer pelos impulsos egoístas que
acabam instrumentalizando-a, consegue-se amá-la como pessoa e não enquanto
objeto de prazer. O respeito é amor e o amor produz o respeito.
São Mateus completa a frase
dizendo: “porque verão a Deus”. Quem
olha o outro sem segundas intenções egoístas, descobre no outro uma dimensão
espiritual. Descobre nele a imagem de Deus, porque toda criatura a traz
consigo. Isto ajuda a viver o amor numa ótica que supera a pura atração natural
e instintiva. Leva a vê-lo na perspectiva mostrada por Deus: é o contexto de se
descobrir como dom de um para o outro à luz do Seu amor exemplar. Ele se fez
dom para o homem e para a mulher: dom de vida, de liberdade, de respeito, de
restauração. Amou-os com verdadeira gratuidade, sem outras intenções, somente
desejando que se desenvolvessem na vocação que lhes foi confiada.
O amor, antes de ser puro,
é casto; a castidade precede a integridade física. É o olhar límpido que sabe
acolher o outro e crescer com o outro.
Todavia, tem que responder ao
próprio impulso carnal. O discurso é bonito, mas se torna difícil no impacto
com as exigências sexuais. É difícil ao se deixar envolver também no contato
físico, erótico; sobretudo quando o afeto se torna sempre mais profundo, a
ligação mais estável e envolvente e a possibilidade de chegar ao matrimônio se
dilata no tempo.
Daí, a pergunta: “Como expressar
o amor de tal modo que seja casto? Até onde é lícito manifestá-lo fisicamente
sem cair em pecado?”.
Os peritos sublinham a
importância de não querer consumar tudo e logo: de saber esperar, de lidar de
modo gradual com as expressões afetivas. É importante uma caminhada gradativa.
Cada um deve aprender a lidar
com o afeto conforme este vai ganhando espaço. Com o tempo saberá encontrar as
modalidades afetivas que sejam voltadas para a sensibilidade alheia e
respeitosa dos valores nos quais se acredita. Não há dúvida, é difícil! Daí a
importância da prudência, das recíprocas solicitações que não exponham a seguir
os instintos. Ternura, atenção recíproca, afetuosidade respeitosas são expressões
que cultivam o amor e o mantêm casto, sob a condição que não percam jamais de
vista a pessoa em sua totalidade e verdade.
Também a abertura ao contexto,
ao confronto, ao grupo de amizade ajudam a crescer num amor maior, a não se
fechar numa vida afetiva a dois, que o tempo se desgasta.
O amor casto deve ser cultivado.
É uma flor que não cresce em terrenos incultos. Delicadeza de alma, respeito ao
outro, valores espirituais, feitos próprios se torna contexto que favorece
isso. Ajudam a manter os horizontes abertos além da relação do casal. A
descobrir que o amor casto abre o coração ao dom de si, que pode ir além da
relação a dois. Pode chegar a descobrir que a própria vida pode ser vivida como
dom de amor a Deus e aos irmãos como coração não dividido.
É o caso de quem faz a escolha
da vida de consagração.
O amor casto deve ser cultivado
através da purificação do coração. As expressões egoístas são onipresentes como
a erva daninha: devem ser arrancadas. Não basta dizer: “Não me confesso, porque
vou fazer de novo”. Os sacramentos são de ajuda para
perceber a graça e para manter vivo o ideal da castidade por amor.
Fonte: Revista: O Milite –
Milícia da Imaculada ( Bruno Scuccato)
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